A Construção escolar das diferenças.
A Instituição escolar é concebida de muitas diferenças, distinções e desigualdades. Começou a separar os sujeitos, tornando distintos os que freqüentavam à escola dos que não tinham acesso a ela. Dividiu internamente, separando os adultos das crianças, os meninos das meninas, os pobres dos ricos, católicos e não católicos.
Concebida para acolher alguns, mas não todos e aos poucos foi sendo requisitada e freqüentada por aqueles cujo acesso havia sido negado. Com isso a escola precisou de diversas transformações.
O espaço escolar já foi pensado e construído nesta forma, para que já houvesse a separação.
Os currículos, normas, procedimentos de ensino, teorias, linguagem, materiais didáticos, avaliação são seguramente, loci das diferenças de gênero, sexualidade, etnia, classe. Precisamos questionar não apenas o que ensinamos, mas o modo como ensinamos e que sentido nossos alunos dão ao que aprendem. Por isso temos que estar atento para a nossa linguagem, procurando perceber o sexismo, o racismo e o etnocentrismo que carregamos.
No ambiente escolar conhecemos e sentimos os mais variados cheiros, sons, sendo eles bons ou ruins e aprendemos a aceitar ou rejeitar.
Na sala de aula de aula vemos professores realizando separações nas brincadeiras falando que menina não brinca com brinquedo de menino e vice-versa, reparando e consertando a maneira de sentar de uma menina e mesmo dizendo que uma menina mais agitada que gosta de brincadeiras com meninos chamando-a de Moleca por isso.
Antigamente as escolas femininas se dedicavam a repetidas aulas de treino das habilidades manuais preparando jovens prendadas. Percebia-se na forma de ser e de agir se a menina ou o menino era normalista ou militar ou estado no seminário.
Na minha maneira de pensar penso que os comportamentos de meninos e meninas já não são mais como antes, devido às várias influências inclusive dos meios de comunicação. Por isso não podemos esperar que somente os meninos tenham comportamentos mais agitados, curiosos e agressivos e que meninas sejam mais tranqüilas. Eu mesma já tive turmas na qual as meninas eram mais agitadas e quando isso ocorre não podemos dizer que há desvios de comportamento.
Observa-se também nos livros didáticos que a diversidade de arranjos familiares e sociais, a pluralidade de atividades exercidas pelos sujeitos, o cruzamento das fronteiras, as trocas, as solidariedades e os conflitos são ignorados. Exemplos de discriminação nos livros didáticos, pois se referem aos negros a situações de hierarquicamente inferiores ou subordinadas.
Há professores que ainda hoje tem uma visão de que as mulheres são fisicamente menos capazes que os homens.
A Educação Física, também é privilegiada por manifestações com relação a sexualidade das crianças. Estudiosos que se dedicam ao estudo da sexualidade, afirmam que para vários homens praticar esportes durante a vida escolar era considerado “natural”, e o seu oposto era indicação de algo está errado. Sendo que o futebol é considerado quase que uma obrigação para qualquer menino normal e sadio. Quando ouvimos um homem falar que não gosta de futebol já o olhamos de maneira achando que algo está errado.
A linguagem, as tática de organização e de classificação, os distintos procedimentos das disciplinas escolares são todos, campos de um exercício desigual de poder.
Os currículos, regulamentos, instrumentos de avaliação e ordenamento dividem, hierarquizam, subordinam legitimam ou desqualificam os sujeitos.
Se quisermos reduzir e transformar toda a sociedade a partir da escola deveu adotar uma atitude vigilante e contínua no sentido de procurar desestabilizar as divisões e problematizar a conformidade com o natural, isso implica disposição e capacidade para interferir nos jogos de poder.
O Gênero da docência.
A Instituição escolar é primeiramente masculina e religiosa, marcada e voltada para a formação de um católico exemplar. A escola foi atribuída a produção do cristão, o cidadão responsável, dos homens e das mulheres virtuosos. Esse modelo de ensino permanece no país por um longo tempo. Com o passar dos anos foi percebendo que as práticas e arranjos de ensino sugerem algumas continuidades no processo educativo escolar, por outro, certas modificações indicam possíveis descontinuidade e rupturas. O Magistério e a escola transformam-se historicamente. Os sujeitos que circulam se diversificam e a instituição, talvez seja, sob vários aspectos, outra instituição. A mudança mais evidente nesse processo de transformação está a feminização do magistério.
No Brasil foi possível identificar essa transformação ao longo da segunda metade do século XIX, permitindo assim não apenas a entrada das mulheres nas salas de aulas, mas também o seu predomínio como docentes.
O magistério tornou-se atividade permitida e indicada para mulheres, representado de um modo novo na medida em que se feminiza e para que possa de fato, se feminizar.
Inicialmente estabelecem-se funções distintas para eles e para elas, ou seja, separados por gênero. Senhoras honestas e prudentes ensinam meninas, homens ensinam meninos, os currículos e programas distinguem conhecimentos e habilidades adequados a eles ou a elas, recebem salários diferentes, disciplinam de modo diferente seus estudantes têm objetivos de formação diferentes e avaliam de formas distintas.
Aos poucos foi crescendo os argumentos a favor da instrução feminina, vinculando-a à educação dos filhos e filhas.
Nesse processo de feminização, o magistério era associado às mulheres, como amor, a sensibilidade, o cuidado, etc., para que assim possa ser reconhecido como uma profissão admissível.
A representação do magistério é transformada, na qual as professoras são compreendidas como mães espirituais.
Até nos dias de hoje nós professores, principalmente de Educação Infantil, como mães sendo que os pais preocupam-se mais com os cuidados como alimentação, o sono e a parte pedagógica é deixada de lado por eles. Além de nos chamarem de “tias”.
A imagem do professor era vista como uma mulher assexuada, solteirona e os trajes e seus modos devem ser assexuados. A vida pessoal deve ser discreta e reservada.
Ainda hoje o professor é representado dessa maneira. Algumas instituições ditam a maneira de vestir, com trajes assexuados manter-se discreta como devem se comportar dentro e fora da instituição.
Não existe tal identidade, tanto porque não há só uma verdadeira representação desse sujeito, mesmo porque ele não é apenas um professor ou professora. Os alunos sabem disso e são capazes de compreender quando observam seus professores e professoras na rua, na praia, num shopping, ou num bar. Em algumas dessas situações, talvez eles e elas até lhes pareçam “outras pessoas”, despidos como estão dos símbolos e códigos que, através de suas roupas, gestos e linguagem, representam a incorporação da docência.
domingo, 13 de dezembro de 2009
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